Sobre vida acadêmica e períodos de estresse

Muita gente discutindo sobre esse negócio de não discutirmos nada. Muita gente falando que os alunos saem despreparados para viver da universidade. Muita gente dizendo que os biólogos são necessários para o mundo e para o mercado, mas parece que só conseguimos vê-los nos corredores do nosso centro ou em reportagens internacionais cercados de pesquisadores importantes.

Nossos pais dizem, ou acreditam, que um dia seremos nós a ocuparmos esses lugares, que seremos cientistas e pesquisadores, que poderemos construir nossa própria independência. Sempre que um professor comenta sobre a opção de sermos estagiários em seus laboratórios, dá pra perceber uma esperança escondida em seus olhares sérios, como se esperassem um "sim, estou interessado" daqueles poucos alunos que se esforçam pra encontrar interesse em todas as coisas. E tudo isso é muito bonito até que você pare e analise sua própria situação.

O que foi dito no primeiro período mesmo? O que eu aprendi de Biofísica? O que aquele professor super reconhecido tinha dito em meio àquelas tantas palestras que nos ofereceram quando estávamos pisando no centro pela primeira vez? O que eu retive de informações desde que eu decidi que era isso o que eu queria para a minha vida? Eu deveria me sentir culpada por não me lembrar das características de todos os blastocelomados que eu estudei no semestre passado? Ainda que eu queira trabalhar com mamíferos e aves e que a área que eu mais goste seja conservação? Eu deveria ter medo de receber tantos "nãos" na vida, mesmo sabendo que são estes que me mostrarão como passar pelos caminhos mais difíceis? O que eu deveria fazer sabendo que me ensinaram erradamente que a pergunta "quem é você?" é comumente respondida com uma nota no sig@? Como eu devo estudar pra passar em 7-8 cadeiras com as melhores notas num período? Será que eu devo tentar pagar 11 cadeiras ao mesmo tempo, igual aquele professor que todo mundo admira e que conseguiu seguir carreira no que queria? Será que eu deveria me sentir culpada por não conseguir responder a essas perguntas? Ou por não ter mais tanto ânimo para fechar um semestre com o melhor de mim porque eu sei que um ainda mais difícil e estressante vem depois de 15 dias de recesso? Ou por não conseguir dormir pensando no que vai acontecer no futuro? Ou por nenhum remédio fazer mais efeito? Ou por eu me sentir tão doente sem saber o porquê? Ou por eu ver o meu mundo se despedaçando ao meu redor e não ter a mínima certeza de que poderei fazer algo efetivo para mudar isso um dia? Eu deveria sentir inveja ou pena dessas pessoas que tem tanto tempo e dinheiro para si e nunca para ajudar os outros que estão morrendo de frio e fome pelas ruas de qualquer cidade? Eu deveria sentir orgulho de ter a personalidade que tenho ou de saber fazer tantas coisas que são "inúteis" no meio acadêmico? Minha vida seria melhor se eu tivesse escutado todos os que disseram que eu deveria ser ilustradora ou médica, e não bióloga? O que um bom biólogo precisa levar de seu curso como um todo, ainda que não seja um exímio especialista em todas as áreas?

É tão difícil não sentir culpa por essas coisas (e por estar aqui me questionando quando eu tenho duas provas que podem decidir minha aprovação amanhã de manhã). Mas a partir disso, assim como tantos outros textos iguais a esse, é possível concluir que: sim, é verdade quando dizem que não estamos discutindo o suficiente (pois se estivéssemos ninguém ficaria se perguntando essas coisas); sim, sempre estaremos despreparados em algum nível enquanto o sistema e todos os envolvidos (de qualquer nível hierárquico) não colaborarem; sim, somos necessários para o mundo, mas não sabemos por onde começar e nem como, e não foi o mundo inteiro que se conscientizou acerca do trabalho que temos para manter nosso planeta vivo (infelizmente...); sim, se seus pais te apoiam mesmo não tendo desejado que você fizesse o curso que você faz, eles estão te ajudando de algum modo (então não reclame com eles por isso); sim, os professores andam tão desesperados quanto nós, em vários aspectos; e não, eu não poderia ser ilustradora porque eu não confio na minha capacidade de reproduzir tudo o que passa pela minha cabeça com lápis e papel (a mesma coisa sobre cursar Medicina) (e ache engraçado porque não faz sentido mesmo...).

E agora chegamos à estaca zero. Quando vamos começar a discutir nossas respostas para o resto das perguntas?