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Como estão as coisas?

Já faz um tempo que eu não tenho parado para escrever minhas besteiras malucas por aqui. Não creio que ninguém acompanhe isto realmente, mas é relaxante jogar essas coisas para fora de minha cabeça.

Caminhos de Pipa (RN) - (c) Elinaldo Lima 2018

Daqui a 3 dias - um pouco mais, um pouco menos - eu completo duas décadas de existência. Sempre que paro para pensar a respeito imagino que "nossa, isso parece bastante". E embora eu tenha plena consciência de que minha própria vida não deve se pautar nos parâmetros "dos outros", e de que "cada um tem o seu tempo", só acho engraçado mesmo que nada disso seja exatamente o que eu pensava que seria 10 anos atrás.

Era um sonho tão inocente ("me tornar uma bióloga de respeito e salvar o mundo") que enquanto eu olhava para cima e para frente tentando alcançá-lo nos meus anos mais jovens, eu esqueci de perceber o abismo que existia entre um ponto e outro. E caí.

Foram várias e várias vezes em quase todos os declives que encontrei pelo meu caminho. Eu me sentia triste com tudo que existia em mim, desde o meu corpo até o meu modo deprimido de pensar, desde a maneira sem propósito como me olhavam pelos cantos até a falta de atenção que eu insistia em tentar não receber. Ah, claro, havia as críticas e as comparações, me fazendo pensar que eu sempre deveria ser mais do que o "nada" que eu era. E tudo isso não parece ter se modificado tanto de lá pra cá.

Desde que entrei na zona de influência do macabramente fantástico mundo dos adultos, comecei a me ver se perdendo, desaparecendo em essência, ou melhor dizendo: deixando de construir uma. Foram muitas horas gastas dentro de cômodos cheios de tensão e agonia; estudando, tentando me concentrar quando tudo o que meu cérebro queria era mais meia hora de descanso. Horas e horas a fio sendo no geral improdutiva e me sentindo culpada por não dar conta do que parecia ser tão fácil para quem mal se importava com a escola.

É claro que o estudo vale a pena. Eu não me arrependo nem um pouco de tudo o que fiz pelo meu boletim. Somente do modo como o fiz. O aprendizado abre portas inestimáveis na vida de qualquer pessoa, sobretudo, quando é obtido por vontade própria, com prazer em ultrapassar limites e ampliar as próprias capacidades.

No entanto, indo contra a metodologia calma do passo a passo, eu só queria acabar logo com tudo aquilo. Queria compensar o mais rápido possível meus cochilos quebrados no meio da tarde, e para isso, deixei de lado as estórias que escrevia, os desenhos que praticava, os eventos para os quais eu ia, momentos em família, tempo com colegas e uns poucos amigos, e mesmo minha própria saúde física e emocional.

Todas essas fichas caíram várias e várias vezes, indo desde 2013, quando precisei perder quase uma semana de aula por estar com parâmeros fisiológicos subitamente conturbados, até os últimos dois anos, nos quais por mais de um momento estive tão próxima do desespero que passei mais de uma noite recostando-me ao travesseiro, extremamente cansada, mas sem conseguir dormir pela quantidade elevada e absurda de pensamentos dentro da minha cabeça. Logicamente, isso me prejudicou bastante, tanto em termos de nota, quanto de aprendizado eficaz; desde minha capacidade de suportar problemas insignificantes até a de proferir palavras e reações lógicas aos acontecimentos dos arredores.

O tempo todo eu me sentia perdida.

Tratei mal pessoas que jamais fariam o mesmo comigo por querer, desprezei sacrifícios dos outros por mim, passei a ignorar a presença (em algum lugar) de muitos que esperavam mais de mim e isso me decepcionava mais do que os decepcionaria.

Hoje à noite eu reencontrei um amigo, minutos depois de um pensamento sobre ele chegar em minha cabeça, e por mais que eu estivesse feliz em vê-lo, automaticamente agi como se ambos tivéssemos pressa. Eu sei que ele percebeu isso. Eu também percebi; no momento em que agi como agi e nos minutos subsequentes. E disso, afirmo que não me senti mal só por uma pessoa que considero muito, mas também pelo modo como eu deixei meus sonhos caírem sobre mim, como uma enorme bigorna de obrigações e cruéis verdades que me transformaram numa máquina de repetir conceitos e falar sobre assuntos acadêmicos com crianças e senhoras de meia idade.

Voltando aos meus 10 anos? Eu JAMAIS teria imaginado que eu me tornaria alguém assim. Eu era tão feliz naquele ponto, naquele local e com aquelas pessoas. Era uma vida confortável e nada afrontosa, que não me ensinou a lidar com o medo quando ele chegou. Agora, minhas preocupações, além de tudo o que eu deixei para depois achando que um sonho bonito era algo fácil, misturam muito do que eu quero ser com o problema em que eu criei para mim mesma.

Eu perdi algum tempo de vida esquecendo de viver de fato. Eu perdi o tempo que eu poderia ter com pessoas e com instantes que poderiam ter significado muito. Mas agora, como tantos podem concluir: eu já perdi. Os ciclos se repetem e eu imagino como estarei quando eu estiver com o dobro da idade que eu terei em poucos dias...

Mas dessa vez, algo pode ser bem diferente.

Somente eu tenho plena consciência dos meus erros, de quem eles são e onde eu os guardei. Reafirmo que não adianta continuar culpando outras pessoas, me dando todos os motivos que me fazem pensar que eu sou terrivelmente inútil ou mesmo deixando para ler aquela matéria legal da National Geographic na próxima manhã.

Eu passei anos procurando advertências, apoio e aceitação em todos ao redor, menos no que está dentro de mim. Meu sonho impossível de mudar o mundo ainda existe, mas a parte impossível depende de qual mundo estamos falando. E isso não me dá menos vontade de querer mudar os dois.

Eu sou feliz, na verdade, por ter capacidade de perceber todas essas coisas. Eu estou na linha de frente de toda a bagunça que eu gerei e, como promessas de aniversário nunca são demais, eu quero passar a me bater com isso de frente de novo. Eu sei que tenho essa capacidade.

E espero que meu sonho acredite que eu tenho também.

Mieko Hamada

02/06/2018

P.S.: Agradecimentos a todas as pessoas maravilhosas que construíram como puderam esses últimos 20 anos ao meu lado: pais, irmã, pets, amigos, conhecidos, pessoas inusitadas e namorado que eu amo tanto. É tudo nosso! (E o que não for, a gente toma. rs).

Créditos de imagem: Elinaldo Lima (c) 2018

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